Dr. Diego Rocha - Cirurgião de Cabeça e Pescoço e Cirurgia Buco-Maxilo-Facia
O que é tireoide?

O que é tireoide? Ou seria tiroide?
A palavra tem origem grega, uma junção dos termos THYREÓS (que significa escudo) e OIDÉS (forma de), devido ao fato da glândula se assemelhar a um escudo. Então, na língua portuguesa (PT-BR) chamamos TIREOIDE. E de onde vem a palavra TIROIDE? Tem origem na língua inglesa, que se chama THYROID (TÁIRODI).
É muito comum as pessoas falarem “eu tenho tireoide” ou mesmo digitar no Google “como saber se eu tenho tireoide” se referindo a algum problema que possa haver na glândula. Mas a tireoide é uma glândula que todos nós nascemos com ela, desta forma, o melhor seria pesquisar “como saber se tenho problemas na tireoide”. Falaremos adiante desses problemas, que chamamos de hipotireoidismo ou hipertireoidismo.
A tireoide é uma glândula em forma de escudo, porém atualmente a associamos mais a uma borboleta (com dois lobos ou asas), que fica localizada na parte anterior e inferior pescoço, logo abaixo da região conhecida como “Pomo de Adão” (gogó). É uma das maiores glândulas do corpo humano, sendo a maior glândula endócrina e tem um peso aproximado de 15 a 25 gramas (no adulto).
É formada basicamente por duas células:
- Foliculares: produz tireoglobulina, que é fundamental na síntese dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina).
- Parafoliculares (células C): produz calcitonina (tireocalcitonina), que tem muita importância no metabolismo do cálcio, inibindo a retirada de cálcio do osso, reduzindo sua concentração no sangue (plasma).
Principais funções do T3 e T4:
- Regular o gasto energético
- Regular temperatura corporal
- Atua no correto funcionamento do cérebro, fígado e rins
- Atua no crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes
- Fertilidade
- Peso corporal
- Qualidade da memória
- Concentração
- Estabilidade do humor
- Controle emocional
Quando a tireoide não está funcionando adequadamente pode liberar hormônios em excesso (hipertiroidismo) ou em quantidade insuficiente (hipotireoidismo).
Bócio
Bócio é o nome que damos para todo aumento visível da tireoide, seja por um nódulo localizado ou mesmo quando a glândula está toda aumentada difusamente.
Tanto no hipotireoidismo como no hipertireoidismo, pode ocorrer um aumento no volume da tireoide (bócio) e pode ser detectado através do exame físico realizado pelo Cirurgião de Cabeça e Pescoço. Embora seja muito mais comum as alterações da tireoide em mulheres, problemas na tireoide também podem ocorrer em homens e aparecer em qualquer fase da vida, do recém-nascido ao idoso.
Hipotireoidismo
Chamamos de hipotireoidismo, ou popularmente “glândula preguiçosa”, quando a glândula tireoide não produz seus hormônios de forma suficiente, estando hipofuncionante.
Causas
- Tireoidite de Hashimoto: doença auto-imune que inativam a produção dos hormônios da tireoide
- Baixa ingesta de iodo: o iodo está presente do sal (sal de mesa) e quando o iodo está em baixa concentração por um período muito longo, a tireoide não tem matéria-prima para produzir os hormônios.
Sintomas
- Depressão
- Desaceleração dos batimentos cardíacos
- Intestino preso
- Menstruação irregular
- Diminuição da memória
- Cansaço excessivo
- Dores musculares
- Sonolência excessiva
- Pele seca
- Queda de cabelo
- Prisão de ventre
- Cansaço excessivo
- Pele seca
- Queda de cabelo
- Aumento do colesterol no sangue
- Unha quebradiças
- Ganho de peso
- Aumento do colesterol no sangue
- Disfonia: rouquidão
- Edema de face: inchaço do rosto
Diagnóstico
O diagnóstico do hipertireoidismo é realizado pelo médico, necessitando colher a história do pacientes e suas queixas, bem como realização do exame físico e solicitação de exames complementares.
- Exame físico: realizado pelo médico em busca de aumento do volume da tireoide ou outros sinais
- Ultrassonografia (USG): não é solicitada de rotina e sua solicitação deve ser avaliada caso a caso.
- Exames de sangue: principal método, o T4 livre e o TSH podem diagnosticar o hipertireoidismo. A dosagem do ATPO (anticorpo anti-tireoperoxidade) auxiliar na definição se a causa for tireoidite de Hashimoto.
- Biópsia/PAAF: não tem indicação na suspeita do hipotireoidismo
Tratamento
O tratamento do hipotireoidismo é simples e evolve o uso diário do hormônio que está em carência, o T4. O remédio, a levotiroxina, deve ser tomado todos os dias em jejum, e após aguardar pelo menos 30 minutos até se alimentar.
Complicações
O hipotireoidismo se não tratado adequadamente pode levar à complicações graves e por vezes irreversíveis, como:
- Depressão
- Anemias
- Coronariopatia
- Desordem gastrointestinais, neurológicos, endócrinos, metabólicos e renais
- Disfunções respiratórias
- Dislipidemia: colesterol alto
- Glaucoma
- Hipertensão arterial
- Insuficiência cardíaca
- Retardo mental, surdez e deficiência no crescimento em recém-nascidos com hipotireoidismo
Hipertireoidismo
O hipertireoidismo ocorre quando há excesso hormônio tireoidiano (T3 e T4) no sangue e pode ser devido à presença de iodo presente em alguns medicamentos, nódulos funcionantes (produtores de hormônios) na glândula, ao funcionamento mais acelerado da tireoide ou à ingestão dos hormônios da tireoide além do necessário. A causa mais comum de hipertireoidismo é a Doença de Graves, que ocorre quando o sistema imunológico começa a produzir anticorpos que geram automatismo da tireoide que passa a produzir de forma descontrolada seus hormônios.
Então, como se há mais hormônio que o necessário, o corpo passa a funcionar mais rápido e alterar a função de diversos órgãos.
Classificação
- Doença e Graves: disfunção autoimune da tireoide estimulando a produção de hormônios tireoidianos, associada ao aumento do volume da glândula (bócio). Esta é a principal causa (80%) de hipertireoidismo.
- Doença de Plummer: um nódulo autônomo hiperfuncionante
- Tireotoxicose: aumento da função da tireoide por motivos diversos
- Bócio Multinodular Tóxico: consiste na presença de vários nódulos tireoidianos hiperfuncionantes
- Outros: tireoidide de Quervain, tireoidite supurativa (bacteriana), tireoidite fibrosa invasiva (Riedel)
Sintomas
- Taquicardica/palpitação: aceleração dos batimentos cardíacos acima de 100 vezes por minuto
- Arritmia: irregularidade no ritmo cardíaco
- Insônia
- Fala acelerada
- Agitação e gesticulação
- Nervosismo, ansiedade e irritabilidade
- Tremores nas mãos
- Sudorese: suor excessivo
- Intolerância ao calor
- Queda de cabelo
- Rápido crescimento das unhas
- Descamação das unhas
- Fraqueza nos braços e pernas
- Diarreia e intestino solto
- Hiporexia: perda do apetite
- Emagrecimento sem dieta: perda de peso importante
- Alterações no período menstrual
- Aumento da probabilidade de aborto
- Olhar fixo
- Fotofobia: sensibilidade a luz
- Protrusão dos olhos: olhos saltados para fora
- Acelerada perda de cálcio dos ossos com aumento do risco de osteoporose e fraturas.
Diagnóstico
O diagnóstico do hipertireoidismo é realizado por meio da consulta médica, necessitando colher a história do pacientes e suas queixas, bem como realização do exame físico e solicitação de exames complementares.
- Exame físico: realizado pelo médico em busca de aumento do volume da tireoide ou outros sinais
- Ultrassonografia (USG): é o exame de imagem principal e o mais sensível para avaliar a tireoide, porém não consegue fechar o diagnóstico do hipertireoidismo
- Exames de sangue: principal método, o T4 livre e o TSH podem diagnosticar o hipertireoidismo. A dosagem do anti-TRAb (anticorpo anti-receptor de TSH) quando elevado por sugerir Doença de Graves.
- Cintilografia: consegue mostrar se a hiperfunção da glândula é causada por um nódulo (Doença e Plummer) ou se á uma alteração difusa
Biópsia/PAAF: não está indicada quando não há presença de nódulos, porém, quando os nódulos são diagnosticados no exame físico ou mesmo pela USG, podemos realizar a biópsia para descartar que seja um câncer de tireoide.
Tratamento
Assim que diagnosticado o hipertireoidismo e sua causa o tratamento deve ser iniciado o quanto antes.
- Supressão da tireoide: é o principal tratamento no hipertireoidismo. Drogas como metimazol e propiltiouracil podem ser utilizadas para este fim nos casos indicados.
- Beta-bloqueador: o propranolol tem indicação nos quadros agudos principalmente quando há taquicardia, arritmias e tremores.
- Iodo radioativo (iodoterapia/radioiodoterapia): consiste na tomada de iodo radioativo, que tem a função de inativar células da tireoide diminuindo assim suas hiperfunção.
- Cirurgia: não é o tratamento de início, ficando resguardado para casos onde a supressão hormonal e/ou a iodoterapia não tiveram sucesso.
Fonte:
Sociedade Brasileira de Endocrinologia